O clima nos bastidores da Record é tenso. Há um ensaio de crise no ‘Programa da Sabrina’. A audiência em queda preocupa a cúpula da emissora. A estreia, em 26 de abril, foi considerada um sucesso, com 10 pontos de ibope. O programa do último sábado (17) marcou 6.4, uma perda de quase 40% de público em apenas três semanas.

A meu ver existem dois problemas básicos. O primeiro é a duração longa da atração. São duas horas no ar. O telespectador não é mais aquele ser passivo, que sentava-se diante da TV com toda a paciência do mundo para acompanhar um programa. Estamos cada vez mais ávidos por novidades instantâneas.

Por força da velocidade da internet, o público de TV adquiriu outro ritmo. Raramente assiste a um programa do começo ao fim sem conferir o que acontece nos outros canais. E quando isso acontece é grande a chance de encontrar algo mais interessante que o faça ‘esquecer’ o programa que acompanhava anteriormente.

O segundo problema do ‘Programa da Sabrina’ é a blindagem da apresentadora. Conhecida pelas gafes e a irreverência, ela tem pouco espaço para improvisar e errar. E, no seu caso, todo deslize pode se transformar num pequeno acontecimento cômico. É isso o que o público quer ver: a Sabrina mais solta e leve, com saudável autoironia, livre das amarras de quadros pouco inovadores e cheios de regras, sem muito espaço para o humor de momento.

Na Record existe uma força-tarefa para exorcizar a figura da Sabrina do ‘Pânico’. Mas é aquela figura impagável e única, surgida no Big Brasil Brasil 3, que conquistou cada vez mais simpatia do público ao longo dos anos de RedeTV! e, recentemente, na Band. A Sabrina dos contrastes: chique e moleca, sensual e ingênua, perspicaz e manipulável, trolladora e vítima de bullying.

Falta ao ‘Programa da Sabrina’ a essência da apresentadora. Sofisticar demais uma personalidade pode resultar em descaracterização — e o público pode responder com indiferença, ou rejeição.