Quem passa diariamente pela avenida Isaac Póvoas ou transita pelo centro histórico, há tempos se depara com espaço abandonado no meio do bairro. Cercada de tapumes metálicos pichados e tomada de árvores e vegetação visíveis mesmo do lado de fora, a praça Rachid Jaudy permanece entre as promessas de melhorias no desenvolvimento urbano de Cuiabá.

No local não existem trabalhadores e nem mesmo algum tipo de movimentação que indique restauração do local, sequer possui placa informativa com sinalização de previsão de obra a ocorrer. Sua ausência reforça o abandono do local pelo poder público. Mesmo com o cercamento em torno da delimitação do espaço, parte da estrutura está danificada na lateral e aos fundos, facilitando a entrada e a livre circulação de pessoas.

A reportagem esteve no local e, ao adentrar o espaço, se deparou com o ambiente está completamente tomado pelo lixo, recipientes com água parada e todo tipo de sacolas plásticas, embalagens de produtos de limpeza, de marmitas metálicas, caixas de medicamentos, cigarros, preservativos, bebidas, trapos de roupas, calçados e até fezes humanas.

Idealizado para funcionar como Centro de Atendimento ao Turista (CAT), o espaço atendeu aos moradores e turistas por pouco tempo e logo foi desativado. Hoje só resta a estrutura danificada que serve de abrigo para pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Além disso, existe no local um grande reservatório descoberto com acúmulo de água, deixando a própria sorte quem circula por lá, além de ser criadouro de insetos.

De dia, os moradores cansados de pedir ao poder público providências quanto a praça já se "acostumaram" com a situação e perderam as esperanças de ver alguma revitalização ali. Sem se identificar à reportagem, alguns deles relataram que há anos solicitam a vereadores e membros de secretarias que o espaço seja reformado, contudo, sem retorno.

Já no período noturno, sem iluminação adequada, o local permanece nas sombras, como um ponto apagado em meio a região. Deserto, transmite sensação de insegurança em quem precisa transitar pelo local ou aguardar no ponto de ônibus do outro lado da avenida.

Dos comércios próximos, um deles chama atenção por estar bem na esquina da praça. A pequena banca Rachid Jaudy persiste próximo ao local. No estabelecimento, Vilane da Silva, 60, deseja que um dia as autoridades olhem pela região.

“Eu gostaria que arrumassem a praça. Fica melhor para mim, que tenho comércio, para a população, para a cidade, porque é uma praça no centro. Eu gostaria que nosso prefeito tomasse as providências e arrumasse o mais rápido possível. Assim como eu, acredito que todo mundo que ama Cuiabá também pensa assim”, lamenta.

Na calçada da rua Barão de Melgaço, um pequeno monumento lembra a quem o local homenageia. Abaixo da foto, a placa de inauguração da Praça José Rachid Jaudy diz “homenagem do povo cuiabano a colônia sírio libanesa, por meio de seus lídimos filhos, ao saudoso benfeitor desta capital, nascido em 16 de julho de 1890. Inaugurada em 20 de dezembro de 1970”.

O memorialista Francisco das Chagas conta que antigamente o local era denominado praça Santa Rita e por volta da década de 1970 o prefeito Bento Lobo mudou o nome para homenagear um da região, José Rachid Jaudy.

“O senhor José Rachid foi um homem que deixou suas raízes, com certeza, para viver em um país livre e de paz, escolhendo nossa cidade de Cuiabá, onde casou-se e nasceram seus filhos, adotando- a como sua própria terra. Merecida homenagem. Homem honesto, dono da tradicional casa Rachid que era especialista em modas na época. Recordo aqui que as filhas do Sr José foram mulheres de luta e trabalho, na época como verdadeiras heroínas ajudavam o pai na famosa loja da época”, conta.

Segundo Francisco, existem dois monumentos prontos para serem instalados na praça: um busto de José Rachid Jaudy e outro com dois meninos soltando pipas, pois foi nessa praça que se faziam as primeiras pipas de Cuiabá, pelo cuiabano Juarez Pompeu de Campos. Ambos os monumentos foram custeados pelas famílias, contudo, aguardam a restauração do espaço.

No mesmo local havia o Memorial Dante de Oliveira, em homenagem ao ex-governador. Dele, restou apenas a fotografia desgastada e a frase na parede atribuída ao "Homem das Diretas Já": “Jamais seremos um povo livre, enquanto tivermos um só brasileiro analfabeto, um único compatriota desempregado, uma única criança passando fome nas ruas ou favelas".

Outro lado

Em 2020, a prefeitura informou por meio de nota que a estrutura estava dentro do planejamento do município do programa de revitalizações ainda para aquele ano. Por conta da pandemia de covid-19, os trabalhos estavam temporariamente suspensos e havia previsão de que o programa fosse retomado após o município ter controlado o avanço do contágio pelo coronavírus.

Já no dia 25 de junho deste ano, durante entrevista ao programa Tribuna (rádio Vila Real FM 98.3), o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro comentou que encerrou a licitação da Praça Rachid Jaudy e em breve lançará a obra cuja previsão de entrega é setembro ou outubro deste ano.

Procurada, a Secretaria de Obras não se manifestou até o momento. O espaço segue aberto.