A posição da hélice do avião de pequeno porte que caiu no meio de uma avenida movimentada na Zona Oeste de São Paulo na sexta-feira (7) pode indicar uma possível falha no motor, segundo especialistas. Essa é uma das linhas da investigação da Aeronáutica sobre a causa do acidente.
Nas imagens do acidente, as pás de uma hélice aparecem embandeiradas, ou seja, viradas de lado (e não de frente). Esse procedimento usado por pilotos faz com que as pás fiquem paralelas ao fluxo de ar, permitindo maior passagem do vento e dando mais estabilidade ao avião em caso de mau funcionamento do motor.
O engenheiro aeronáutico Jorge Leal, professor da Escola Politécnica da USP, explica que o embandeiramento "é um procedimento que se usa quando você perde o motor e você deixa a hélice alinhada com o vento. Ela vira uma pá, gira e dá tração ao avião".
Ele afirma que, quando um motor deixa de funcionar, se a hélice ficar virada para a frente (como a de um ventilador), vai gerar um arrasto (força que faz resistência ao movimento) muito grande com a força feita pelo outro motor. Com o embandeiramento, a hélice fica de lado, dando mais estabilidade ao avião.
Os trabalhos de investigação estão a cargo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e ainda não têm prazo para serem concluídos.
Causas de acidentes
Dados do Cenipa coletados pelo g1 mostram que dois em cada dez acidentes aéreos no Brasil apresentaram falha ou mau funcionamento do motor das aeronaves.
Desde 2015, início da série histórica, foram registrados 1.580 acidentes aéreos no país. Desses, 355 estão ligados a falhas ou mau funcionamento no motor da aeronave, de forma isolada ou em conjunto com outros fatores. Esses números não incluem o acidente de sexta, ainda sob investigação.
Como foi o acidente
O modelo do avião era um King Air F90, fabricado em 1981, com capacidade para oito pessoas.
O avião tentou fazer um pouso de emergência na pista da avenida, mas não conseguiu. Ele avançou sobre a pista, foi arrancando placas e árvores e bateu na traseira de um ônibus até explodir. "Só vi tudo voando e a bola de fogo", contou Genival Dantas Arraes, que passava no local.
Uma gravação de áudio mostrou que o piloto tinha pedido autorização para voltar imediatamente ao aeroporto Campo de Marte, de onde tinha decolado.
O local do acidente fica perto de condomínio, centros de treinamento do São Paulo e Palmeiras, shopping e até estádio.
O cruzamento fechado e o desembarque rápido de passageiros de ônibus atingido por destroços de avião ajudaram a evitar uma tragédia maior.
Vítimas
As duas pessoas que estavam na aeronave morreram: o advogado Márcio Louzada Carpena, que era um dos donos do avião, e o piloto Gustavo Medeiros. O velório deles foi neste domingo no Rio Grande do Sul.
Outras sete pessoas ficaram feridas e receberam atenção policial, sendo que mais três foram encaminhadas a atendimento médico por conta própria, de acordo com apuração do SP2.
Oito já tiveram alta. Uma passageira do ônibus atingido ainda continua internada. Segundo a Secretaria de Saúde estadual, o estado de saúde dela é estável e ela vai passar por uma nova avaliação na tarde deste domingo. Uma outra pessoa ferida foi encaminhada para um hospital particular, mas não há informações sobre a situação dela.