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ESTRATÉGIAS

Varejistas contratam ladrões para testar segurança das lojas

Consultoria oferece serviço em que ex-detentos roubam produtos e depois explicam para as lojas

O GLOBO

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ladroes contratados

 

O roubo de clientes custou aos varejistas britânicos um recorde de US$ 2,7 bilhões no ano passado, enquanto eles enfrentam uma onda persistente e crescente de crimes, afirmou um grupo do setor. O custo do furto no varejo aumentou 21% no ano até 31 de agosto de 2024 em comparação com o ano anterior, segundo o British Retail Consortium em sua última pesquisa sobre crimes.

Os varejistas estão lutando contra um aumento explosivo nos furtos em lojas, impulsionado pela inflação pós-pandemia, que fortaleceu o mercado global ilícito de mercadorias roubadas. O problema foi agravado no Reino Unido pela decisão do governo anterior de reduzir a fiscalização de roubos abaixo de US$ 250 — uma política que a administração atual pretende revogar.

Entre as várias alternativas para combater os roubos, uma chama a atenção. Um ex-professor de criminologia, Martin Gill é fundador da Perpetuity Research, consultoria sediada em Tunbridge Wells, no Reino Unido, que ajuda os varejistas a aprimorar sua estratégia de segurança usando, pasmem, ex-detentos, que simulam furtos nas lojas.

Antes de fundar a Perpetuity, em 2002, Gill estudou e ministrou cursos universitários sobre vários aspectos de crime e segurança, incluindo fraude de funcionários, reincidência e o impacto da vigilância por vídeo. Para realizar pesquisas, ele frequentemente entrevistava criminosos presos para entender o que ele descreve como “o contexto no qual cometer um crime é favorável”.

 

Ele trabalha com ex-detentos no que é conhecido como “testes de penetração” (uma frase também usada em segurança cibernética) ou, mais prosaicamente, “roubo misterioso de lojas”.

"Eles podiam explicar as decisões que tomaram e os tipos de coisas que consideraram desafiadoras ou favoráveis para cometer um crime", diz Gill.

Gill caracteriza seus "misteriosos ladrões de lojas" como "criminosos de carreira que estiveram fortemente envolvidos em roubo e fraude". Ele conheceu cada um deles por meio de pesquisas conduzidas em prisões, agências de liberdade condicional e centros de reabilitação para dependentes químicos, e afirma que eles são capazes de oferecer percepções específicas que apenas um ladrão experiente poderia fornecer.

“Eles viveram sua vida roubando”, diz Gill. “De certa forma, isso tem mais ressonância com os varejistas do que um professor de criminologia.”

A Perpetuity oferece um serviço de nicho, mas faz parte de uma ampla indústria dedicada a ajudar varejistas a lidar com furtos. No Reino Unido, os gastos com medidas de prevenção ao crime aumentaram 67%, chegando a US$1,5 bilhão entre 2022 e 2023, de acordo com o British Retail Consortium.

Uma pesquisa recente com varejistas dos EUA revelou que quase dois terços aumentaram seus orçamentos para treinar funcionários na prevenção de furtos. Gill recusou-se a nomear seus clientes ou divulgar quanto cobra por seus serviços. Mas cada trabalho é diferente. Normalmente, uma empresa entra em contato com uma preocupação ou dúvida específica sobre segurança, e juntos estabelecem um alvo para o furto simulado.

Isso pode significar focar em uma área específica da loja, em um determinado produto ou nas forças e fraquezas de uma medida de segurança específica. A equipe de Gill geralmente testa uma loja pela manhã, outra à tarde e, às vezes, uma terceira mais tarde no dia. Se o primeiro teste for bem-sucedido (ou seja, se os produtos forem furtados com sucesso), eles repetem a operação para fornecer o máximo de informações possível à empresa.

Os ladrões simulam técnicas usadas por criminosos profissionais. Forrar uma bolsa com papel alumínio, por exemplo, impede que as etiquetas eletrônicas de segurança acionem o alarme. Um furto bem-sucedido muitas vezes se deve a erro humano. Certa vez, um ladrão simulado da Perpetuity recebeu a missão de entrar em um supermercado para roubar bebidas alcoólicas — entre os itens mais furtados — e saiu com cinco garrafas de uísque que não haviam recebido etiquetas de segurança.

Em outra ocasião, preocupações sobre os portões de saída fechados de uma loja mostraram-se infundadas: um deles havia sido deixado aberto no dia da operação. Nesse sentido, muitas das encomendas da Perpetuity giram em torno de novas tecnologias, incluindo os caixas de autoatendimento. “Muitas dessas coisas que facilitam a vida do consumidor também, ao mesmo tempo, facilitam a vida do ladrão”, diz Gill.

Mais fácil, mas não infalível: Gill lembra de várias ocasiões em que seus ladrões simulados foram pegos em flagrante. Para evitar que a equipe de loja seja alertada com antecedência, os gerentes raramente sabem que um teste de furto está acontecendo. Normalmente, apenas o departamento de prevenção de perdas da empresa ou quem gerencia a segurança na sede está ciente da operação.

Quando os ladrões de Gill são pegos, eles ativam um Plano B previamente acordado com a empresa. Cada participante carrega o que Gill chama de um “cartão para sair da prisão”. “Em vez de chamar a polícia, a equipe da loja avisa um gerente sênior, que vem nos resgatar”, explica ele — embora, às vezes, seja necessário um pouco de persuasão.

Em outras ocasiões, os clientes representam a maior ameaça. Gill lembra de um dia em que, sem que ele soubesse, um cliente o denunciou à polícia enquanto ele realizava um teste. “Três policiais vieram direto até mim e perguntaram: ‘O que você tem na bolsa?’”, conta ele. “Expliquei o que estava fazendo e tivemos uma conversa muito boa.”

"Felizmente, eles acreditaram em mim".





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