Opinião Sexta-Feira, 07 de Fevereiro de 2025, 07h:18 | Atualizado:

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GONÇALO ANTUNES DE BARROS

A fronteira entre o material e o imaterial

 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO

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A filosofia da mente é uma das áreas mais fascinantes e desafiadoras da filosofia contemporânea. Ao longo da história, pensadores têm se debruçado sobre questões fundamentais como a natureza da consciência, a relação entre mente e corpo, e a possibilidade de a inteligência artificial replicar a cognição humana, sendo esta a grande questão ética que se apresenta às reflexões filosóficas atuais.  

Desde a antiguidade, filósofos tentam responder à questão: a mente é uma entidade separada do corpo ou apenas um fenômeno do cérebro físico? Uma das formulações clássicas desse problema é o dualismo cartesiano de René Descartes, que argumentava que a mente e o corpo são substâncias distintas. Segundo Descartes, a mente, como substância pensante (res cogitans), é separada do corpo material (res extensa), mas interage com ele de alguma maneira. 

O dualismo, no entanto, enfrenta desafios significativos. Um dos principais é o problema da interação causal: como algo não material, como a mente, pode influenciar algo material, como o corpo? Em resposta a essas dificuldades, surgiram teorias alternativas, como o monismo materialista, que sustenta que apenas a matéria existe e que a mente é um produto da atividade cerebral. 

O materialismo emergiu como uma resposta poderosa ao dualismo. Defensores do materialismo argumentam que todos os fenômenos mentais podem ser reduzidos a processos físicos no cérebro. O behaviorismo, por exemplo, sugeria que estados mentais não eram mais do que padrões de comportamento observáveis, descartando a necessidade de uma mente imaterial. 

Com os avanços da neurociência, o fisicalismo tornou-se a perspectiva dominante. Segundo essa visão, estados mentais correspondem a estados cerebrais. A teoria da identidade mente-cérebro, defendida por filósofos como Smart, sustenta que cada experiência mental tem uma contraparte neural específica. 

Contudo, essa visão também apresenta desafios. O problema da experiência subjetiva, ou o "problema difícil da consciência" de David Chalmers, questiona como processos físicos podem dar origem a “qualia” – a experiência subjetiva e qualitativa de estar consciente. Esse problema levou ao surgimento do funcionalismo e do “panpsiquismo” como alternativas teóricas. 

O funcionalismo, influenciado pela ciência da computação, propõe que estados mentais são definidos não por sua composição material, mas por seu papel funcional num sistema. Essa visão permite a possibilidade de que máquinas possam, teoricamente, ter estados mentais, desde que sejam organizadas de maneira adequada para processar informação como um cérebro humano. 

Isso levanta questões sobre a inteligência artificial (IA) e a consciência artificial. Uma IA forte, capaz de replicar a consciência humana, desafiaria nossa compreensão tradicional da mente. Testes como o de Turing tentam avaliar a inteligência das máquinas, mas a questão da consciência artificial permanece em aberto. Poderia um sistema digital ter experiências subjetivas, ou a consciência requer um substrato biológico? 

Diante das limitações do materialismo e do funcionalismo, algumas correntes filosóficas têm ressuscitado perspectivas que atribuem consciência a uma parte fundamental da realidade. O panpsiquismo, por exemplo, sugere que a consciência é uma propriedade fundamental do universo, presente em graus variados em toda a matéria. 

As novas teorias e descobertas aproximam a humanidade de uma compreensão mais profunda do que significa ser um ser pensante. Seja através do materialismo, do funcionalismo ou de hipóteses mais ousadas como o panpsiquismo, a busca pela natureza da mente continua a desafiar e expandir os limites do conhecimento humano. 

É por aí... 

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito. 





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