Opinião Segunda-Feira, 13 de Janeiro de 2025, 10h:29 | Atualizado:

Segunda-Feira, 13 de Janeiro de 2025, 10h:29 | Atualizado:

Rosana Leite Antunes de Barros

Samba, suor, e o trabalho de tia Ciata

 

Rosana Leite Antunes de Barros

Compartilhar

WhatsApp Facebook google plus

Rosana Leite Antunes de Barros.jpg

 

Por nascimento batizada como Hilária Batista de Almeida, ou apenas Tia Ciata, nasceu em Santo Amaro da Purificação/BA, no dia 13 de janeiro do ano de 1854, e fez a passagem em 10 de abril de 1924, no Rio de Janeiro.  

Sambista, curandeira, mãe de santo, quituteira, e portadora de outras façanhas importantes para a história e cultura brasileira, se perfaz em um daqueles seres humanos onde sobram adjetivações. 

Se na atualidade a discriminação e a intolerância religiosa são temas latentes, na era em que viveu a nossa homenageada, para se ter ideia, reuniões para difusão do samba e do Candomblé necessitavam de autorização policial. É contado que apenas o “porte” de um pandeiro já se constituía em motivo suficiente para apreensão do objeto e prisão do possuidor.   

Tia Ciata enfrentou com empatia, doçura e carisma os muitos desafios de sua época, se constituindo em sinônimo de resistência com toda a sua influência. Aos 16 anos já fazia parte da irmandade da Boa Morte. Com 22 anos se mudou para o Rio de Janeiro, durante a famosa “diáspora baiana”, tendo se casado e se tornado mãe de 14 filhos. 

Na residência da Mãe Ciata, na Praça do Sol, muitos encontros com sambistas aconteciam, formando um cenário propício para a propagação da cultura, do samba e das conversas políticas. Ficou conhecida como a “Matriarca do Samba”. Também se tornou mãe de santo de grande respeito bastante jovem, na região do Rio conhecida como Pequena África, que é uma área de grande concentração de negras e negros. 

Para o sustento familiar, se especializou como quituteira, passando a vender as suas iguarias com toda a indumentária afro-religiosa, contando com trajes brancos, turbantes e colares. Os seus tabuleiros a fizeram uma das “tias” baianas mais respeitadas, com bolos, manjares e cocadas a adoçarem paladares e vidas. 

Tia Ciata fez uma poderosa junção brasileira praticamente infalível: comida e música de qualidade. O seu jeitinho peculiar de amor é rememorado historicamente, e que se completava com o sambar “miudinho”, se tornando figura amada e popular. Inclusive, sendo uma das principais figuras do samba, contribuiu sobremaneira na consolidação do respectivo gênero musical, fazendo florescer tão grandiosa cultura.   

A admirável figura está relacionada à historicidade brasileira, porquanto a sua chegada ao Rio de Janeiro ocorreu alguns anos antes do processo de abolição da escravatura no país. Resistindo a tempos conservadores ao extremo, participou de pautas criminalizadas e proibidas, fazendo eclodir o grito de liberdade.  

Jornalistas, músicos, políticos, artistas, escritores e outras pessoas influentes se rendiam aos encontros festivos na casa da Mãe Ciata. É narrado que o primeiro samba gravado no Brasil denominado “Pelo Telefone”, foi composto por Dongo e Mauro de Almeida na casa dela, no ano de 1917. 

Mulher negra, com tamanha expressão, religiosidade, cultura e liderança também contribuiu para o fortalecimento das favelas cariocas, disseminando a promoção da autoestima a da identidade cultural das pessoas negras.  

É contado que o presidente Wenceslau Brás a chamou para tratar de uma ferida aberta em sua perna, onde os profissionais da medicina não encontraram a cura. Após esse fato, outros políticos a procuravam para o restabelecimento das enfermidades. 

Tia Ciata construiu e edificou o caminho para as futuras gerações. No ano de 1983, a escola de samba Império Serrano a fez tema de samba enredo com o nome “Mãe Baiana Mãe”. É de se destacar um trecho: “Mãe, baiana mãe / Empresta o teu calor / Eu quero amanhecer no teu colo / Onde deito, durmo e rolo / E isolo a minha dor / Eu quero, quero te saudar nesta avenida / Pra valorizar a vida / Que a vida valorizou / Mãe negra, sou a tua descendência / Sinto a tua influência / No meu sangue e na cor (...)”  

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, eleita para o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, eleita para a Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - para ocupar a Cadeira nº 29. 

 





Postar um novo comentário





Comentários

Comente esta notícia








Copyright © 2018 Folhamax - Mais que Notícias, Fatos - Telefone: (65) 3028-6068 - Todos os direitos reservados.
Logo Trinix Internet