Opinião Terça-Feira, 10 de Setembro de 2024, 06h:00 | Atualizado:

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Renato de Paiva Pereira

Viés de Confirmação

 

Renato de Paiva Pereira

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Renato de Paiva Pereira

 

Vieses cognitivos são “defeitos” do pensamento que nos fazem descartar informações contrárias aos conceitos que firmamos sobre alguém ou alguma coisa. O viés de confirmação, por exemplo, leva-nos a supervalorizar os elementos que reforçam nossas convicções, por mais ingênuas e tolas que sejam e, ao mesmo tempo, a rebater ideias contrárias, mesmo as mais lógicas e razoáveis.

Somos sujeitos a paixões, mas podemos minorar essa tendência, buscando informações diferentes ou até conflitantes, que estão à disposição de todos na imensidão da internet. Mas, aqui, esbarramos no primeiro obstáculo: o próprio viés de confirmação já começa a nos dirigir na seleção das notícias, dispensando as que nos contradizem e acolhendo as que confirmam nossas crenças e opiniões.

A menos que encontremos algo absolutamente extraordinário nessa eventual pesquisa, ao final dela, continuaremos provavelmente com a convicção original. Quem crê, por exemplo, já escolheu seu candidato político, não terá nenhum interesse em buscar informações negativas dele, nem positivas do concorrente.  

Mas por que somos tão suscetíveis a essa armadilha mental? O viés de confirmação é, em parte, um mecanismo de autoproteção. Nossas crenças estão frequentemente ligadas à nossa identidade e, ao confrontá-las, sentimos que estamos questionando quem somos. Isso gera desconforto, levando-nos a preferir a segurança de ideias familiares, ainda que incompletas ou até mesmo falhas.

Na verdade, de alguma forma, somos todos tendenciosos, muitas vezes sem perceber. Porém, conhecendo esse viés e combatendo-o, podemos nos tornar pensadores mais críticos. 

O caminho para um entendimento mais profundo e uma convivência mais civilizada, começa com a disposição de questionar nossas próprias certezas. Só que falar (ou escrever) é mais fácil que fazer. Mesmo tendo conhecimento teórico do viés de confirmação, muitas vezes somos dominados por ele. 

Por isso a inutilidade dos debates (guerras?) eleitorais que estão sendo disputados neste período que antecede as eleições municipais. Os eleitores já tem sua opinião formada e não vão mudá-la por conta de uma proposta melhor do oponente. Aliás, ninguém está interessado nelas (as propostas), gostam mais do circo que os candidatos armam. Cada ouvinte vai aplaudir as “lacrações” de seu favorito e desdenhar as falas do concorrente, mantendo seu viés de confirmação. 

Tem ainda um detalhe preocupante que é o gosto que desenvolveram os eleitores por baixarias e vulgaridades que os candidatos exibem na mídia. 

Os políticos atuais não são piores (falando de ética e capacidade) que os do passado. Mas uma coisa está diferente: eles estão muito mais grosseiros, agressivos e vulgares. O desejo de “lacrar” nas redes sociais tirou-lhes todos os freios e pudores. Mas fazem isso porque uma grande parte do eleitorado gosta e aplaude. Será o “zeitgeist ou espírito do tempo?”

Há 35 anos, os candidatos à presidência Brizola e Maluf eram tidos como os mais agressivos em debates na televisão. Hoje seriam refinados lordes ingleses, se comparados aos toscos políticos que inundam a internet com xingamentos e acusações levianas.

Renato de Paiva Pereira 





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