Política Sábado, 12 de Outubro de 2024, 13h:43 | Atualizado:

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DIVERSIDADE

Primeira mulher trans eleita em MT avisa: "isso abre a porta para as outras"

Ela foi eleita vereadora pelo município de Campo Novo do Parecis

VINICIUS MENDES
Gazeta Digital

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dricka-lima, vereadora-trans

 

Dricka Lima (Cidadania) é a primeira mulher trans eleita como vereadora em Mato Grosso. Ela irá atuar no município de Campo Novo do Parecis (396 km a Noroeste) a partir de 2025. Vinda do estado de Alagoas em busca de melhores oportunidades, Dricka afirmou que nunca se deixou abalar pelo preconceito e conquistou uma boa vida na cidade. 

Em entrevista ao GD, a nova parlamentar, que conseguiu um feito histórico, contou sobre o início de sua trajetória política, como encara o preconceito e a busca por inspirar outras mulheres trans, mulheres cis e todas as pessoas de sua comunidade. 

Gazeta Digital – Como começou a sua história aqui em Mato Grosso?

Dricka Lima - Vai fazer 15 anos que eu moro aqui em Campo Novo do Parecis, eu vim de Alagoas pra cá atrás de uma oportunidade. Eu tenho amigos que moravam aqui, de lá, e diziam ‘lá é bom! Vamos pra lá’, e tal. E eu vim pra cá e Deus me abençoou grandemente, consegui trabalhar em um mercado aqui, conceituado, grande. Passei 11 anos trabalhando lá e trabalhei também em um restaurante e conquistei minhas coisas, comprei carro, comprei casa e tenho respeito na sociedade, sempre fui respeitada, vista como uma pessoa centrada, uma pessoa inteligente e sempre trabalho no social com as pessoas, sempre ajudei mães que precisavam de roupinha de bebê, sempre ajudei mães que precisavam de trabalho, sempre ajudei mães que buscavam alguma coisa.

Gazeta Digital – E sua vida política, como iniciou?

Dricka Lima - Eu fui candidata, na verdade, em 2020, fiz 300 votos aproximadamente, não fui eleita. Aí me chamaram pra trabalhar na prefeitura, trabalhei na Cultura. Aí, eu tive a oportunidade de trabalhar no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) do bairro onde eu moro há 15 anos e lá eu fiz um trabalho social com as meninas, trabalhando, ajudando, atendendo bem, fazendo o possível, dando conselho, mostrando pra elas do direito delas, porque tem gente que não sabia dos próprios direitos, e assim foi, naturalmente.

Gazeta Digital - E de onde veio o desejo de se candidatar novamente?

Dricka Lima - Pela necessidade das mulheres e pessoas mais carentes de não saberem os seus direitos. E uma das minhas lutas, que eu trabalhei no mercado, eu era chefe de confeitaria, eu sou confeiteira e eu trabalhava sempre com mulheres e essas mulheres engravidavam e não voltavam a trabalhar, e eu queria entender o porquê. Eu fui entender que aqui em Campo Novo, a gente tem mais de 50 mil habitantes, não tem creche integral para essas mulheres. Elas querem ajudar seus maridos, têm que tirar seu próprio salário pra pagar berçário, pagar babá e aqui é caríssimo, o custo de vida aqui é muito caro. E isso eu coloquei no meu coração que eu podia fazer alguma coisa.

E eu tenho um time de futebol aqui, eu ajudo muito essas crianças, para não estarem na rua, para não incentivar a fazer coisa errada. O esporte eu acredito que vai incentivar muito essas crianças. Por isso eu coloquei meu nome à disposição.

Gazeta Digital – E como foi a campanha? Quais foram as dificuldades? Sofreu preconceito?

Dricka Lima - Dificuldade a gente tem, né? Uns falam que vai dar certo, outros falam que não, ‘ah, porque tu é assim, ninguém vai votar em você, o povo vai falar isso’, mas eu não liguei. Pensei em desistir, claro, porque eu não sou de ferro, mas tive pessoas especiais ao meu lado que falaram assim ‘não vai desistir, você vai conseguir’, eu agradeço essas pessoas, essas mulheres, esses homens, amigos, incluindo todos.

Gazeta Digital – Você é a primeira mulher trans eleita parlamentar em Mato Grosso, para você qual é a importância disso?

Dricka Lima - Sou muito feliz mesmo, porque isso abre a porta para as outras, que está em depressão hoje, se sente inferior ao outro, ‘ah, porque eu sou assim’, não é, todo mundo é igual, isso fortalece outras, dá oportunidade para outras dizerem assim ‘a Drika venceu e por que eu não?’, não só na política, em um trabalho, numa empresa, montar alguma coisa pra sobreviver e na política também. Todas nós somos capazes, basta a gente querer e andar com a verdade, respeitar o próximo e ter respeito, essa é a palavra, respeito pelo outro que não se respeita, pelo outro que te respeita, pelo outro que acha que você não é capaz, respeitar a todos com igualdade.

Gazeta Digital – Qual foi a sua reação quando você ficou sabendo do resultado? Quando soube que estava eleita?

Dricka Lima - A minha a reação foi de não acreditar, até agora a ficha está caindo aos poucos, eu ficava perguntando às pessoas ‘realmente eu ganhei?’ Porque, assim, a gente vive num país preconceituoso, mas eu fiquei com uma sensação que eu não consigo explicar, uma sensação muito boa, muito feliz e daqui pra frente o que eu tenho que fazer é cumprir com o que eu falei. Eu disse que iria lutar pelas pessoas e é isso que eu vou fazer, vou cobrar o meu prefeito, vou cobrar a Câmara dos Vereadores, vou cobrar pra gente executar o plano de governo que a gente planejou.





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