Política Segunda-Feira, 13 de Outubro de 2014, 09h:22 | Atualizado:

Segunda-Feira, 13 de Outubro de 2014, 09h:22 | Atualizado:

EFEITO DAS URNAS

Rondonópolis se fortalece como maior força política de MT

Cidade passa a contar com três senadores; 2 deputados federais e 3 estaduais

Débora Siqueira
A Gazeta

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 Wellington, Maggi e José Medeiros representam cidade do Sul de MT no Senado

Nenhum outro município de Mato Grosso saiu mais fortalecido das eleições de 2014 como Rondonópolis (214 km ao Sul), que a partir de agora tem os três senadores com domicílio eleitoral na cidade - Blairo Maggi (PR), Wellington Fagundes (PR) e José Medeiros (PPS), quando este assumir a vaga que será renunciada por Pedro Taques (PDT) - além dos deputados federais Carlos Bezerra (PMDB) e Adilton Sachetti (PSB), e três deputados estaduais Zé do Pátio (Solidariedade), Sebastião Rezende (PR) e Nininho (PR).

A força política da cidade também se confunde com o poderio econômico da segunda maior economia de Mato Grosso e berço financeiro dos maiores doadores de campanha eleitoral, todos com empresas sediadas no município. Porém, tanto a força dos representantes do agronegócio quanto das lideranças de bairros e militantes herdeiros da semente plantada pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), oposição à ditadura militar, dividem o mesmo espaço político.

Lideranças comunitárias e entidades de bairro forjadas na década de 80 com o MDB e posteriormente com o PMDB ainda têm voz ativa como a União Rondonopolitana das Associações de Bairros (Uramb) e a União dos Moradores da Região Salmen (Unisal). Exemplificando essa latência política na cidade, o deputado federal Carlos Bezerra (PMDB) fez uma comparação sobre a diferença entre o comportamento dos eleitores da capital e de Rondonópolis, citando a venda da companhia de água de Cuiabá, a Sanecap para a CAB, durante uma reunião em 2012 para discutir o processo eleitoral na cidade.

‘Quando os vereadores autorizaram a venda para a CAB daquela forma, pensei que iam ter protestos, enfrentamento, mas não teve nada. Se fosse aqui, o povo teria quebrado a prefeitura e assassinado o prefeito’. 

Bezerra foi um dos responsáveis por ter iniciado uma geração crítica e uma safra de políticos da cidade conhecidos no Estado e uma militância de uma paixão por política quase messiânica. Em 1982, ainda no período de transição da ditadura para a democracia, Bezerra foi eleito pelo PMDB em oposição ao governo dos militares, que contava com o ex-governador Júlio Campos, na época do PDS. A partir daí, a política transcendeu os partidos políticos e se entranhou com a religião na cidade.

O deputado Sebastião Rezende (PR) deve muito aos seus irmãos da Assembleia de Deus e passou a ganhar votos de evangélicos de todo o Estado. Mas nenhum outro líder religioso de Rondonópolis tem a força política do padre Lothar Bauchrowitz, pároco da Paróquia São José Operário, na Vila Operária, o maior colégio eleitoral do município.

Durante a missa, ele prega sobre a importância da participação política e lamenta o não envolvimento dos padres com o tema. ‘A política é a melhor obra de caridade, interessa ao bem comum, por isso incentivo a participação. Não sou de nenhum partido, mas tenho as minhas convicções, pois houve um grande trabalho realizado’.

Por meio de convênio com o município, a Igreja Católica mantém 13 creches na cidade e outra parte dos recursos ele busca com benfeitores na Alemanha, sua terra natal. Também num esforço com a comunidade, o padre ajudou a construir mais de 3 mil casas para a população carente. ‘Tornei-me politizado aqui. A fé sem obras é morta’. 

LIÇÕES DAS URNAS - O deputado eleito Zé Carlos do Pátio (SD) estava ‘sepultado’ politicamente quando saiu pelas portas de trás do gabinete de prefeito em 2012. Cassado e com alta rejeição, voltou a atuar como engenheiro civil e professor. Agora foi eleito com menos da metade dos votos que teve em 2006. ‘O pessoal aqui marca muita posição. Já passei 12 anos em Cuiabá como deputado e vi colegas votar contra interesses da população cuiabana. Se deputado fizer isso contra Rondonópolis, está morto. Aqui o jogo é bruto’. 

Adilton Sachetti (PSB) também já recebeu recado dos eleitores. Mesmo com a máquina na mão, perdeu em 2008 com apoio do governador, dos produtores rurais, deputados, senadores e do presidente da República. A votação expressiva recebida em 2014 também é parte por arrependimento da população de não tê-lo reelegido, mas Sachetti prefere analisar de outra forma. ‘Quando passou a se discutir racismo e lutas de classe deu no que deu, mas a sociedade amadureceu e retomou a análise do que nós fizemos. Rondonópolis tem uma discussão política muito forte e talvez seja esse um dos ingredientes que traz a cidade na linha de frente das discussões políticas no Estado’.

Ex-vereador da cidade de 76 a 89, Miguel Ramos, enxerga que as lideranças de bairro, movimentos de classe e sindicatos aprenderam que se não gritarem, não são ouvidos. ‘O pessoal bate duro. As pessoas são apaixonadas pela política e não por políticos, apesar de ainda ter alguns assim. Você não vai ver a cidade ficar como Várzea Grande toda arrebentada de buracos. A população cobra e cobra muito’. 

Na casa da família Ramos, política é assunto de almoço aos domingos.

LEAIS ATÉ O FIM - A paixão com que o aposentado Manoel Prado fala sobre Carlos Bezerra é inacreditável. ‘Já avisei minha mulher e meus três filhos. Quando eu morrer quero ser enterrado com a bandeira do PMDB e com a foto do Bezerra’.

Manoel e o deputado federal se conheceram em Rondonópolis na década de 60 e ambos eram getulistas e filiados ao PTB. Com o golpe de 64 e a dissolução dos partidos políticos, passaram a fazer parte do MDB. Ele manteve-se como empresário na cidade enquanto via o amigo ingressar cada vez mais na política. ‘Eu sei mais das obras que o Bezerra fez do que ele mesmo. Ele me pergunta: Eu fiz isso Manoel? Eu respondo, claro que sim! Não lembra?’, sorri vitorioso. 

Manoel está revoltado com a população de Rondonópolis, que cada vez menos vota em seu candidato. ‘Ele deveria largar mão desse povo daqui, esse bando de ingratos, mas ele é bom e não vai fazer isso. Se o Bezerra tem defeitos até hoje não vi’.

O eletricista João Batista Soares, primeiro suplente de vereador, deixou de ser secretário municipal ao assumir a cadeira na Câmara Municipal para ser leal com Zé do Pátio. ‘Queriam que eu deixasse o Solidariedade, mas não poderia fazer isso, o Zé olha pelos pobres. Se ele continuar assim, vou estar com ele. Dinheiro não é tudo, nem o poder. Sou servidor de carreira, tenho minha empresa de serviços de eletricidade’.

Assim como qualquer ‘patista’ ele culpa a imprensa local pela má avaliação do ex-prefeito. ‘Ele fez tanta coisa aqui, mas a imprensa matou o Zé aqui em Rondonópolis. Ele não quis gastar com publicidade porque sobrava mais para investir em habitação, e a população não viu como ele foi bom’. 

ASFALTO E PONTES - O prefeito de Rondonópolis, Percival Muniz (PPS), quer capitalizar o momento político e transformar em ação para resolver três gargalos da cidade: drenagem, pavimentação e a mobilidade urbana. Assim que o processo eleitoral chegar ao fim, ele pretende marcar reunião com todos os políticos com domicílio eleitoral na cidade e com cargos eletivos para pedir recursos por meio de emendas para socorrer a cidade. 

‘Para resolver o problema do asfalto de toda cidade precisaríamos de recursos em torno de R$ 400 milhões. Precisamos duplicar a quantidade de pontes sobre o Rio Vermelho e o Arareau. Cerca de 70% das pessoas moram de um lado do rio Vermelho e só tem uma ponte dentro da cidade ligando com o outro lado, que é o Distrito Industrial. Se cada um deles dedicar pelo menos 1 ano de mandato para sua cidade, sua base, já resolve todos os problemas de Rondonópolis’. 

O analista político João Edisom de Souza avalia esse fortalecimento, mas de uma forma macro, ele acredita que a baixada cuiabana pode perder com essa musculatura política de apenas uma cidade. ‘Lá são uns 100 mil eleitores, aqui na baixada cuiabana são mais de 800 mil. A tendência dos políticos é beneficiar sua base e depois os demais. Rondonópolis vai sobrepor a baixada cuiabana e vai ser melhor atendida e beneficiada nos próximos quatro anos’, ponderou. 

Contudo, ele renega o título de que Rondonópolis é a cidade mais politizada de Mato Grosso. ‘Em Mato Grosso não tem cidade mais politizada. A questão é econômica. A estrutura eleitoral não atende mais a democracia, mas grupos econômicos e esses grupos estão lá’.

 





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